quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


"Eu hoje joguei tanta coisa fora,
Cartas e fotografias
Gente que foi embora....
A casa fica bem melhor assim..."

Ela ouviu essas frases soltas em uma canção
Identificou-se com seu dia, sua noite
E tudo o que vasculhou dentro dela
Jogou coisas fora
Abriu mão de outras
Apagou fotografias
E deletou antigos desejos

Sabia que havia chegado no seu limite
Colocou as cartas na mesa
Rompeu as paredes
E os vidros do boxe pareciam lhe sufocar durante o banho
Era um sentimento que estava saindo, arranhando as paredes internas do seu corpo
Cortando partes dela, relutando em sair
Saía em gritos, lágrimas
E escorriam pelo ralo

Ela viu seus olhos tristes
Pelo contraste do espelho
Sabia que não teria mais volta
Não entendia
Leva um tempo para a alma entender

Fechava os olhos e a imagem daquele rosto lhe pertubava
Ela queria, agora, odiar o que sempre amou
Gratuitamente amou
Como lidar com sentimentos tão antagônicos?
Como fazer o caminho de volta, tendo chegado tão longe?
Voltaria?

Rendeu-se ao cansaço
Cobriu o corpo dolorido e cerrou os olhos
Buscou o sono
Acordou já com os primeiros raios de sol invadindo o seu apartamento
Por um instante pensou em se entregar

Mas vestiu-se com aquela roupa,
Aquela, que um dia deixara ele tão fascinado
Nos cabelos, o perfume que ele tanto amava
Nos lábios e nas unhas, carmim
Calçou as sandálias de salto
Pegou sua bolsa
Abriu a porta, aquela que nunca mais se abriria para ele
Respirou fundo
E seguiu para o seu destino

Caminhou pelas ruas do bairro
Desejou não pensar mais naquele rosto
Mas acalmou-se quando se deu conta
De que fez tudo o que poderia fazer
Esgotou suas fichas
Arriscou, saltou do alto do edíficio
Mas ninguém a aguardava lá embaixo
Então vai levar um tempo para cicatrizar as feridas da queda

Mas ela sabe, ah, ela sabe
Que alguém a espera.



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